domingo, 19 de abril de 2009

Vale a pena ler.

"Escrevo antes de saber se o FC Porto passou às meias--finais da Liga dos Campeões. Pouco importa. Nada do que possa ter acontecido nesse jogo pode apagar trinta anos de um extraordinário trabalho. O que aconteceu na semana passada só espanta quem não acompanha o futebol, o vê apenas através das lentes da quase totalidade da imprensa nacional ou sofre da maior doença nacional: a inveja.

Lembro-me sempre do Zulmiro Costa, meu padrinho, quando o FC Porto faz exibições como a da semana passada ou ganha mais um título. O sr. Costa morreu pouco depois de o FC Porto ter vencido o título que pôs termo a 19 anos de jejum, quando, em vez de se esforçarem por ganhar, os dirigentes portistas e adeptos gastavam o tempo a queixar-se das arbitragens e dos malandros de Lisboa.

Não é que não houvesse um fundo de verdade nas constantes queixas: recordo que até 1976 só um sócio do Sporting, Benfica ou Belenenses podia ser presidente da federação. Que foi preciso uma espécie de decreto de Salazar para impedir a saída do Eusébio do Benfica. Que árbitros como o Inocêncio Calabote vivessem na mais completa impunidade ou que ministros ameaçassem árbitros em intervalos de jogos.

Dizia o sr. Costa que apesar de essas desculpas terem alguma validade, não era isso que fazia com que o FC Porto nada ganhasse. Era preciso trabalho, organização e ambição, ou seja, tudo o que hoje sobeja ao FC Porto e falta aos outros clubes portugueses. Estava coberto de razão, o meu padrinho.

O que ele não pôde ver, nem provavelmente conseguiria imaginar, é que o clube do seu coração se transformasse na mais bem-sucedida organização portuguesa. Mais, que o FC Porto fosse, por mais de uma vez, o melhor da Europa e do mundo e que estivesse sempre nos maiores palcos, batendo-se de igual para igual com os maiores clubes de futebol do universo, ganhando mais vezes do que as que perde (da hegemonia caseira é inútil falar, e não só no futebol: o FC Porto é um clube ganhador em todas actividades desportivas em que está envolvido).

E é nessa comparação que surge, de forma clara, o fantástico trabalho feito. O Porto representa uma pequena e longe de rica cidade europeia (o que se devem rir os dirigentes do FC Porto quando ouvem discussões sobre se o clube é ou não regional), tem um pequeno número de sócios e adeptos e tem um orçamento ridiculamente pequeno face aos clubes com que tem de se confrontar. Vejam-se os clubes que ganharam as competições europeias e as cidades e regiões que estes representam e pode-se ter a medida exacta do alcance dos resultados obtidos.

Mas esta brilhante história transcende o próprio futebol.

Em nenhuma actividade, empresarial ou outra, Portugal conseguiu, nos últimos anos, ter uma empresa com o sucesso internacional do FC Porto. Que empresa portuguesa foi considerada a melhor da Europa - e através de critérios objectivos - nos últimos vinte e cinco anos?

A excelência da gestão do FC Porto tem em Portugal o efeito costumeiro de qualquer pessoa ou empresa que se destaque dos seus pares: inveja e maledicência. Portugal odeia vencedores.

Como é normal em Portugal, o sucesso deve-se a um conjunto de infâmias e "jogadas". O FC Porto ganha - segundo os inteligentes do costume - porque compra árbitros, droga os atletas, intimida jornalistas e adversários, entre outras manobras menos claras.

O trabalho, o empenho, a organização, a coesão interna, a ambição, a vontade de superação, a disciplina, o sacrifício são fáceis de exigir mas difíceis de replicar. O FC Porto representa esses valores como nenhuma outra organização portuguesa e é por isso que é alvo de tantos ódios, invejas e intrigas. "

Por Pedro Marques Lopes em 16 Abril 2009 no Diário de Noticias

Um comentário:

Fernando disse...

Mas o que estamos a ver é um mau jogo do Porto e uma vergonhosa arbitragem de Xistra. Que grande gatuno!